quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Devolução

Era só uma garota com seu cabelo preso em um rabo de cavalo, olhar triste, presa no seu silêncio mas sempre observadora e cuidadosa.
Nunca negou ajuda a quem quer que fosse mesmo quando não tinha nada pra oferecer. Suas mãos sempre estavam estendidas.
Colecionava as decepções dentro de um saco plástico e jogava no fundo da gaveta da cômoda de seu quarto e não gostava de mexer ali.
Sempre sentia dor...
Reservada diante das pessoas... Observava olhares, modos de falar e gestos.
No fundo ela sabia em quem podia confiar e de quem deveria se afastar.
Seus amigos não preenchiam sequer apenas os dedos de uma única mão.
Mas era duro acreditar no que seus olhos viam...
Fingia não ver porque anestesiava, de certa forma, a pontada que sentia em seu coração.
As folhas das árvores voavam nos braços do vento e o tempo não dava tempo para despedidas.
Foi quando percebeu que o saco plástico que havia guardado há tempos na gaveta já não cabia mais nada.
Encheu o pulmão.
Soprou o saco plástico.
E já não havia mais nada: nem decepções guardadas, nem saco plástico, nem silêncio guardado.
Era a hora de colocar um fim naquilo que a fazia sofrer e não fez de seu coração um depósito de lixo.
Antes rejeitava o que ofereciam embrulhado em papel de seda porque por fora a beleza não escondia o mal cheiro do que estava guardado.




Um comentário:

  1. Fora a parte final, é praticamente a minha história de vida, lógico em uma versão feminina, incrível!
    Parabéns, de novo e sempre, pois escreve como poucas.

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