segunda-feira, 13 de julho de 2015

O conto da noite

Ela sabia que sua liberdade e sonhos tinham a sua alma como parceira...




Olhou pela janela e tudo que podia ver era uma rua estreita de paralelepípedos iluminada pela lua cheia. Não havia ninguém, exceto um rapaz que caminhava enquanto tocava uma canção linda com sua gaita.

Era uma noite que tinha um gosto de nostalgia. Não uma nostalgia triste. Não...

Era uma noite daquelas que guardam mistérios e emoções que ficaram perdida em algum canto do passado. Sem uma data definida. Sem um horário marcado.

A lua parecia transbordar os sentimentos que não cabiam nela. Estava emudecida com o brilho que havia lá fora. Encantada com as notas musicais que eram entoadas e se perdiam naquela noite solitária.

Ela sentiu vontade de sair e dançar. Queria que o vento beijasse sua face e brincasse com os seus cabelos. Queria sentir o orvalho da noite tocar seus pés. Ela queria... A cadeira, não.

Tantos desejos e sentimentos guardados em seu peito...

Tantos momentos sonhados e jamais compartilhados...

A cadeira era a sua prisão, mas a sua alma era livre.

Acordada sonhava.

Dormindo realizava seus sonhos.

Sonhava em dançar na chuva, correr com as crianças que a olhavam pela janela no final da tarde, abraçar e sentir o coração do outro bater junto com o seu ou simplesmente andar ao lado daquele moço da gaita...

Tudo que ela tinha eram os seus sonhos e isso a cadeira já não podia roubar.

Mas quando menos se espera, a vida nos prega uma surpresa e com ela não foi diferente.

Ao fechar a janela e puxar a cortina amarela de flores coloridas percebeu que a realizações de seus sonhos não esperaram por seu sono e logo ouviu-se uma batida na porta.

Cautelosa e ansiosa perguntou quem estava ali e ouviu uma gaita tocar.

- Não... Não pode ser! - sentiu borboletas no estômago e as mãos trêmulas tocou a maçaneta e diante de si estava ele.

Ele a convidou para um passeio e ela mostrou a cadeira. Ele mostrou os seus pés.

Ele a observara há tempos e decidiu fazer uma serenata não em sua janela mas na janela de sua alma: olho no olho. Então, construiu uma bota onde as pernas dela seriam colocadas junto as pernas dele e ele a conduziria. Ela só precisaria segurar firmemente na cintura dele enquanto caminhavam na noite ao som da gaita.

Mas quem diria... As crianças ainda estavam acordadas e quando a viram correram em sua direção e quando se deu conta, todos brincavam de roda e o vento beijou a sua face e brincou com seus cabelos.

Ela sorriu.

Ela sorriu e chorou.

Ela descobriu que a cadeira já não era a sua prisão e como todos ao seu redor, ela também era livre e a deficiência que carregava consigo era só uma vírgula diante dos pontos de exclamações que surgiam em cada detalhe de cada surpresa acontecia.

A noite foi longa. E não, não foi um sonho.

Ela descobriu que haviam pessoas que olhavam além de seus mundos e que além desses mundos havia espaço pra todo mundo.

Todo mundo!

***
Texto que escrevi para o Scriber







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