terça-feira, 29 de setembro de 2009

A dor da perfeição

Se havia algo que ela não se permitia, esse algo era: ERRAR!
A busca pela perfeição fazia parte da sua vida desde pequena. Se deixasse um brinquedo num cantinho da sala e se alguém esbarrace nele, ela saberia que alguém o tocou...
Se ela arrumasse algo em sua casa e alguém mudasse a posição do objeto que ela havia colocado no lugar, num piscar de olhos ela saberia e ficaria irritada.
Tudo tinha sempre que estar no lugar certo, do modo correto, na hora certa,... se ouvesse um toque, um mover... tempestades eram aguardadas.
Na realidade, esse jeito carrancudo de lidar com objetos, refletia a sua própria alma. Sempre se comparava aos outros, porque não se sentia amada. Sempre sentia ciúmes dos outros, porque queria experimentar o prazer de ser querida como os que a cercavam eram...
Errar era uma palavra que não podia estar no seu dicionário.
O duro foi, pra ela, descobrir que quanto mais se foge, mas se é perseguida...
Ela achava que todos deveriam agir como ela, pensar como ela, andar como ela... ela era tão perfeccionista que não admitia nem mesmo que os outros errassem.
A dor da perfeição era demasiadamente forte, quando ela se deparava no espelho e tinha que encarar que nem mesmo ela, conseguia ser perfeita assim, era uma facada em sua alma.
Pessoas que buscam a perfeição, tendem à errar mais facilmente. E, acredite, cada erro que cometem é uma ferida na alma sem tamanho.
Os erros surgem quando se busca os acertos...
As imperfeições surgem para revelar ao ser humano que ele precisa depender do que é Perfeito, Puro e Santo.
O apóstolo Paulo, uma vez se queixou do espinho na carne. Aquilo doía, o incomodava, o deixava fragilizado, o fazia "errar"... mas aquele espinho seria o seu companheiro de vida, de toda uma vida e jamais o abandonaria. O mais incrível nessa história, é que Deus olha pra Paulo e diz:
"Paulo, a minha graça te basta!"
Graça, favor não merecido!!! Uma prova absurda de amor de Alguém perfeito por alguém cheio de falhas e limitaçãos. Imperfeito.
Graça essa que é capaz de lidar com nossas mesquinharias, limitações, defeitos, imperfeições. Graça essa que nos cobre de amor, de perdão, de nova chance, de nova vida.
Quem busca ser perfeito e cobra perfeição, deve ser visto como alguém falho que busca em outro ser falho o desejo de crescer, de amadurecer,...
Paulo era um homem que lutava contra si: "o que eu quero, eu não faço e o que faço, eu não quero!"
Você já se pegou lutando contra si mesmo? Você já se deu umas boas lambadas por causa de uma decisão errada? Uma palavra dita grosseiramente? Uma atitude errônea, porque tudo que mais se desejava era acertar?
Deus diz pra você: A MINHA GRAÇA TE BASTA.
Ela é suficiente pra você, todos os dias. Suficiente pra sua forma de agir, de falar, de andar, de olhar...
A graça de Deus te basta hoje. O Seu perdão foi estendido dos altos céus até tocar a terra e te alcançar.
Não desista de procurar acertar, mas não se martirize tanto por errar.
"Se confessarmos os nossos pecados, Ele (DEUS) é fiel e justo pra nos perdoar e nos purificar de toda a injustiça."
Sim, é Deus quem nos justifica e nos santifica. É Deus quem nos aperfeiçoa e nos lapida.
Não se mate por errar, mas viva por querer acertar!
Deus te abençoe!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Vá para o porão...

Um corretor de imóveis levou um possível comprador à uma casa belíssima: portas com maçanetas trabalhadas, janelas delicadamente pintadas, um jardim florido e bem aparado, uma rua tranquila e vizinhos amistosos... parecia ser a casa perfeita pra se morar. Mas o possível comprador, pediu pra conhecer o porão da bela. Espantado, o levou casa à dentro, sem entender onde ele desejava chegar. Antes de descerem ao porão, mostrou cada cômodo espaçoso e os raios do sol que invadiam cada canto da casa através das janelas. Tudo era muito perfeito aos olhos, tudo era magnífico... uma verdadeira obra de arte! Então, o comprador insistiu, dizendo que queria ir até o porão... O corretor abriu a pequena porta que ficava no corredor que ligava a sala à cozinha e desceram juntos pelas escadas. Ao ligar a luz, o comprador observou as paredes, as vigas, tudo minuciosamente sendo observado. O corretor, um tanto ansioso, o questionou sobre o que ele (o possível comprador) buscava ali. Então, respondeu que as mais belas casas não significam ser boas demais pra se viver, se o alicerce que se esconde nos porões não estiver no prumo. A venda? Não deu certo! Interessante história! Porque, muitas vezes, é essa a nossa história também. Quantas pessoas são como as casas mais belas que todos almejam ter em seus círculos de amizade, em suas empresas, no seu grupo familiar... mas quando se descobre que a aparência não sustenta o que o coração é, há decepção. Menosprezamos com muita facilidade, pessoas que não aparentam ser bonitas, bem vestidas, ornamentadas, eloquentes, simplesmente as enxergamos como um "serzinho" vivo. Admiramos celebridades, seguimos a moda internacional, as formas da ditadura da beleza, os donos de carros importados, os grandes times esportivos, as mansões européias, as passarelas... Perdemos tanto tempo, dando valor ao que não tem valor... Subestimamos a simplicidade porque, aparentemente, ela não chama à atenção, não dá destaque, não fica no topo... Engraçado como somos tão superficiais e pequenos... Imagino a cara que Samuel fez ao passar pelos filhos de Jessé, como se passa por uma tropa, ao ter que revelar a escolha do novo rei de Israel. Os irmãos de Davi eram guerreiros, grandes, importantes... já Davi, pobrezinho... tinha o odor das ovelhas, era jovem demais e "feinho". Um garoto que ficava tocando sua "viola" pelos campos e interagindo com "animais". Quem quer viver na casa feia? Quando meu pai comprou a nossa casa, ninguém dava nada por ela. Era velha, feia, uma cor de nada, não atraia nenhum olhar. Meu pai ficou anos e anos, reformando a velha casa. O alicerce que essa casa tinha era bom, forte... tal qual um vaso nas mãos do oleiro, dava pra ser trabalhada. Não se dá valor a algo ou alguém, pelo que ela aparenta... a decepção é sempre certa. Lógico, toda regra tem sua exceção. Mas, descubra nas coisas que, aparentemente, não tem valor o grande potencial e força que existe. A beleza pode estar escondida num porão que nunca foi visto. Afinal, todo porão é escuro e coberto de teias de aranha. Talvez, porque a beleza da vida e o seu valor foi esquecido pela superficialidade de uma vida sem sabor! Creio que Deus deseja te tirar do lixo e te fazer assentar com príncipes. Te dará um lugar de honra. Não importa se você faz parte dos círculos dos bons ou não. Ele não julga pela aparência e sim, o coração! Deus te abençoe!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Andanças e Estações

Há duas estações que me encantam: a primavera e o outono!
O outono traz o sentimento de que recordar é algo bom. É mergulhar no passado e não se prender à ele. É navegar pelos momentos vividos e lembrar de que tudo que se viveu não pode ser jogado fora, mas transformá-los em pedacinhos de madeira que servirão de degraus para a construção da escada que nos levará à um futuro promissor.
Outono, mês das folhas secas, tons pastéis, saudades, desejos...
Outono é a fase de pesagem, de medir o tamanho dos erros e acertos, de trazer a memória as lições difíceis e os aprendizados...
Já a primavera é a estação do renascimento, do novo, da oportunidade, da vida, das cores, dos perfumes, da beleza...
Primavera é a visão que tenho do futuro, se hoje estou no verão, plantando as sementes da vida, a primavera me fará desfrutar da colheita. Se o sol me castigou durante as plantações, a brisa da primavera me fará sorrir quando eu ver as flores desabrocharem, sentir o perfume do jardim, ver meus cestos de frutos que foram semeados com choro e tanto labor enchê-los até transbordar...
Primavera me traz a sensação de liberdade, de correr pelo campo, de dançar na chuva, de abraçar e ser abraçada, de amar e ser amada...
O verão me traz cansaço, faltam-me forças, coragem... é a estação do desânimo. O inverno me traz tristeza, nuvens cinzas, solidão, um dia longo, lágrimas que caem sem motivos...
É claro que todas as estações são importantes pra vida humana, todas elas têm um fator que faz parte da nossa vivência, mas se eu pudesse escolher apenas duas estações, escolheria as estações da vida e das recordações.
Ninguém vive sem um passado, assim como ninguém caminha se não for pro futuro.
Se hoje, a estação é verão, corro nas fontes da Água da Vida e me refresco em seu amor...
Se hoje, a estação é inverno, me refugio na Torre Forte onde encontro a lareira que aquece minha alma e me dá a certeza de que outras estações estão por vir.
Ando por cada uma delas e muitas vezes, desfaleço...
Mesmo assim, em todas, encontro um lugar pra mim. Um lugar pra ser chorar, um lugar pra ser consolada, um lugar pra ser ensinada, um lugar pra ser amada.
Deus nos abençoe!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Família, um tesouro não escondido...

Os momentos mais felizes que eu vivi na minha infância foram os momentos em que a família se reunia pra bater papo, dar risadas, trocar presentes em época de festas. Todo natal, ano novo, aniversário, páscoa... todos os feriados eram mágicos pra mim; a certeza de estar novamente com a família reunida enchia meu coração de plena felicidade, os presentes nem eram tão importantes, embora, eu adorasse recebê-los...rs
Mas, quando vamos crescendo, muitas coisas mudam...
Os meus avós faleceram, alguns tios se mudaram pra muito longe, alguns primos perdi o contato, então as festas ficaram mais vazias, a alegria foi se tornando cinza e o conformismo bateu na porta e muitas vezes, deixamos ele entrar.
O gostoso de tudo isso é quando se descobre que a família não é um tesouro escondido. Ela está bem perto, independente da distância. Seu valor é incalculável.
Nunca gostei de falar ao telefone, embora que ouvir a voz de quem tanto amamos faz nosso coração bater fortemente... mas nunca gostei de falar neste bendito aparelho...
Prefiro e-mail, cartas... porque mesmo depois de ter lido, posso reler e sentir o coração bater mais vezes, posso rir novamente com as notícias boas, posso acompanhar a dor como se estivesse por perto. No telefone, assim que o desligamos, muitas coisas ditas podem ser esquecidas...
Durante muito tempo, quis desfrutar de estar com toda a família novamente. Tios colocando as notícias em dia, primos correndo pra lá e pra cá na maior alegria, nossos pais nos olhando e se alegrando com nossa alegria, sobrinhos colocando a casa de cabeça pra baixo...
E depois de anos, pude desfrutar.
Conheci primos que nunca tinha visto, revi primos que ficaram na infância, abracei tios e tias que há muito tempo não via, dei muitas risadas, abracei muito, beijei muitas bochechas e senti o calor do amor aquecendo nossas almas.
Família é isso!
Somos tão diferentes, porém, tão parecidos.
Personalidades e temperamentos diferentes.
Cara de um focinho de outro...
Longe somos família, juntos somos família.
Longe somos peregrinos, juntos somos únicos.
Família não se deve esconder, mas se deve exibir...
Então, feliz da vida, registro aqui um momento gostoso de família que não volta mais, mas tem a chance de acontecer de novo e melhor!
Deus abençoe nossas famílias.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Saterê e o paraíso...

Maués (AM), abril de 1999.
De manhãzinha, estávamos embarcando no Dorinho (barco da base da ag. missionária), já não existe mais, afundou...) pra conhecer e trabalhar na Tribo Saterê. Tudo parecia mágico. Navegamos por um tempo suficiente pra conhecer e admirar as paisagens maravilhosas existentes ali.
Uma natureza simplesmente rica e mágica.
Ao chegarmos na margem, onde ficava a tribo, algumas crianças indígenas vieram nos receber curiosas com os "caras pálidas" que chegavam. Muitas delas, não falavam nossa língua ainda, mas os adultos, sim. Principalmente, o pajé.
Passamos o dia com eles. Brincamos com as crianças, conhecemos o lugar em que dormiam, faziam suas reuniões, mas não conhecemos o banheiro...
Por falar em banheiro, tá aí um pequeno desespero que passamos. Eles sumiam diante de suas necessidades... já nós... Bem, é melhor pular essa parte.
À noite já chegava e o céu revelava um espetáculo desconhecido para os moradores da Selva de Pedra. Aquela tinta óleo usada no céu não se vende em terra!
Vislumbrei um vulto de um pescador e um boto pulando ao seu redor, a emoção tomou conta de mim; não haviam palavras pra descrever o que meus olhos viam, só as lágrimas insistiam em dançar pelo solo da face.
O pajé nos convidou à fazer apresentação de danças e dramas pra toda tribo e prontamente nos arrumamos. Mas um problema surgiu: "O que poderíamos apresentar já que nossos temas eram voltados pra sociedade 'comum'?" Foi decidido então, apresentar um drama infantil que falava sobre as escolhas que fazemos e suas consequências. Geralmente, nos divertíamos muito quando a representávamos, mas não tínhamos idéia do quanto seria impactante na vida dos indígenas.
Como não havia energia elétrica na tribo, fizemos o drama falado (sem ensaio, só na improvisação). O drama "A Cadeira" pode ser bobinho pra nós da sociedade comum e ter só a atenção das crianças, mas o que vimos ali, foi algo que nos chamou muito à atenção. Durante toda a apresentação, as crianças não piscavam os olhos e riam diante das "palhaçadas", mas o pajé ficou parado, sem reação. Quando terminamos de apresentar, o pajé pediu a palavra e começou a chorar. Chorar compulsivamente, porque ele tinha entendido o que Deus estava querendo falar com ele. E ele pediu pra que todos da tribo se colocassem diante de Deus e pedissem perdão pelos seus pecados. Fiquei impactada. Não podia imaginar que uma peça tão simples e apresentada durante tantas vezes por nós, poderia causar tamanho abalo numa tribo. Assim que pediram perdão à Deus, houve uma festa de celebração. Ficamos durante umas 4 horas, cantando uma mesma música com eles. Eles dançavam com seus passos simples (pra frente e pra trás) e ao repetir a música, chamavam pelo nome de cada um da tribo (acho que deu pra entender porque demorou tanto cantar uma única canção, não é mesmo?). Dormimos por lá e no outro dia, ao nos despedir, vimos o quanto à nossa ida até ali os abençoou e ouvimos um pedido que mexeu muito com nossos corações: "Por favor, enviem pastores aqui que possam nos ajudar à chegar mais perto de Deus!" - disse o pajé.
Chaguinha, um dos índios da tribo, faz parte da base, é ele quem está ajudando a sua tribo à ter um encontro com Deus e nos agradeceu por podermos abençoar a sua tribo com a nossa presença e apresentação.
O que me marcou nessa viagem que durou 2 dias (na tribo), foi o simples fato de que o evangelho é muito simples e profundo, nós e que somos complicados e cheios de superficialidade.
Que Deus nos abençoe e tenha misericórdia de nós.